O PESCADOR DE SENTIDO
Uma vez, numa pequena vila de uma cidade litorânea, havia um velho pescador chamado Cláudio. Este simpático e sorridente idoso era conhecido por todos, pois diariamente, bem cedinho, lá estava ele, lançando sua rede ao mar. Ele não pescava por necessidade, nem por comércio, mas por puro prazer. Diziam que era sua forma de meditar, sua ligação com a natureza, sua busca pelo infinito no horizonte do mar.
Um dia, um jovem viajante chegou e resolveu passar alguns dias na vila. Ele era inquieto e sempre buscava respostas para tudo, principalmente para o sentido da vida. Ao saber sobre o velho pescador, ficou curioso e foi procurá-lo:
- Bom dia! Me disseram que o senhor vem aqui pescar todos os dias, e não é por necessidade nem por comércio. Para quê tudo isso, então?
O velho Cláudio deu um sorriso sereno e respondeu:
- Bem, meu jovem, eu pesco para me encontrar. Cada peixe que eu puxo da água é um pensamento que eu retiro do mar da minha mente. O mar, para mim, é a vida. E o ato de pescar me ajuda a entender o movimento das marés da minha existência.
O jovem, intrigado, sentou-se ao lado do velho pescador, e passaram a tarde conversando. Falaram sobre a vida, a morte, o amor e a perda. E mais importante, falaram muito, muito mesmo sobre o sentido da vida.
Ao cair da noite, o jovem levantou-se para partir. Antes de ir, ele perguntou ao velho Cláudio:
- Mas, afinal, qual é o sentido de tudo isso? O que é que não me contaram sobre este conto chamado Vida ?
O velho Cláudio sorriu novamente e apontou para o mar sob o céu estrelado:
- Meu jovem, o sentido não está no peixe que eu pesco, nem no mar onde eu lanço minha rede. O sentido está em cada onda que bate na praia, em cada estrela que brilha no céu, em cada conversa que temos ao entardecer. O sentido está em viver cada momento único tratando-o como tal: um momento único, inédito, irrepetível. E o sentido está em cada vez menos perguntar sobre o sentido desses momentos, e cada vez mais responder diretamente a eles, de uma forma que só você pode responder, oferecendo assim, uma contribuição que seja única à vida, o seu próprio monumento existencial: transformar um grande céu em o seu pedaço de céu, um mar gigantesco, em a sua porção favorita do mar, uma simples pescaria, em a sua pescaria especial desta manhã, um peixe qualquer, em o seu peixe predileto, uma vida aparentemente desprovida de sentido, em a sua vida, totalmente vivida, sentida e repleta de sentido.
O jovem ficou em silêncio por um momento, pensativo. Então, com um aceno de cabeça, ele se despediu e continuou sua jornada, carregando consigo uma nova perspectiva sobre a vida.
Escrever este conto fez muito sentido pra mim, contá-lo à você, mais ainda, agora sou eu que conto contigo. Qual é “o seu” sentido? O que só você pesca no mar da sua existência?
(Daniel Soares – Junho de 2022)